A Percepção do Tempo e o Resgate dos Cinco Sentidos
Com o passar dos anos e o grande desenvolvimento das tecnologias, nossa percepção do tempo tem mudado — temos a impressão de que ele passa mais rápido.
São inúmeras notificações no celular, e a cada atualização há algo novo para ver, ler ou assistir.
Nosso cérebro está tão condicionado a essas tecnologias que muitas pessoas sequer percebem a quantidade de tempo que perdem consumindo as histórias alheias. São horas vendo o que o outro come, lê, pensa, ou onde vai — o que, na maioria das vezes, não agrega nada na vida, especialmente quando se trata de pessoas que você nem conhece ou pelas quais não tem afeto.
A sociedade atual, muitas vezes chamada de “sociedade performática”, é aquela que parece estar sempre fazendo algo, mas que, no fundo, não está realmente presente. Que posta foto do prato, mas não sente o gosto; tira foto no mar, mas não lembra da temperatura da água; posta foto do pôr do sol, mas só o viu através da tela para tirar a foto; que assiste a um show pelo smartphone, sem vivê-lo de fato.
Essa sociedade vem perdendo a capacidade de contemplar: o céu, a rua, o som e o silêncio, o sabor, a temperatura, a textura, o perfume — e tantas outras sensações.
Por isso, hoje quero convidar você a resgatar conosco os cinco sentidos básicos que temos como seres humanos e mostrar o quanto é imprescindível recuperarmos esses sentidos para vivermos uma vida com mais prazer, significado e, consequentemente, termos mais momentos de felicidade genuína — momentos que dependem de nós mesmos e dos nossos órgãos de sentido, e não que sejamos reféns da tecnologia.
Vamos lá?
Contemplação (Visão):
Visão:
Os olhos são os órgãos responsáveis pelo sentido da visão. Eles captam os objetos e enviam mensagens para o cérebro, que faz a decodificação e interpreta o que estamos vendo.
Por meio da visão, podemos contemplar as belezas do mundo: as cores do céu, do lago, do mar, das árvores, das flores e dos animais. Também conseguimos enxergar a beleza das pessoas que amamos — nossa família, filhos, nosso par — e perceber seus gestos e expressões.
É possível admirar detalhes como o fio de luz que entra pela janela, o entardecer, o anoitecer, o brilho intenso da lua, entre tantas outras maravilhas visuais.
Você sabia? Ficar tempo demais olhando para telas luminosas — como as de celulares e tablets — pode causar cansaço nos olhos, além de deixá-los secos e irritados. Isso acontece porque a luz azul-violeta emitida por esses dispositivos está associada à degeneração macular, uma das principais causas de cegueira no mundo.
Cheiros (olfato):
O nariz é o órgão responsável pelo sentido do olfato, ou seja, pela capacidade de perceber os cheiros e odores ao nosso redor. Ele capta as moléculas presentes no ar e envia essa informação para o cérebro, que as processa e interpreta.
É através do olfato que sentimos os aromas gostosos da vida: perfumes, flores, bebês, a pessoa amada, temperos, ervas frescas, comida caseira e o cheiro da natureza.
Além disso, o olfato tem uma função importante na nossa proteção. Por ele, percebemos odores que indicam sujeira, fumaça, alimentos estragados ou outras situações que podem representar risco.
Você sabia? A anosmia é uma condição rara em que a pessoa perde a capacidade de sentir cheiros. Ela pode ser congênita (desde o nascimento) ou adquirida, devido a traumas na cabeça, problemas neurológicos, cirurgias nasais, sinusite, rinite ou outras doenças respiratórias que comprometem os receptores olfativos. A frustração de não poder desfrutar dos cheiros e sabores pode levar à perda de apetite, distúrbios alimentares, depressão e problemas de autoestima.
Sabores (paladar):
Paladar (língua):
A língua é o órgão responsável pelo sentido do paladar, pois é ela que capta e distingue os sabores dos alimentos — salgado, doce, azedo e amargo — além das sensações de quente e frio.
As papilas gustativas presentes na língua decodificam essas informações e as enviam para o cérebro, que as interpreta.
É pelo paladar que experimentamos os sabores da vida; é comer sentindo a experiência! É sentir a saliva se formar ao ver algo apetitoso, perceber a textura, a temperatura e o gosto dos alimentos. É através da boca que sentimos prazer.
Você sabia? Alguns alimentos, como o chocolate, são ricos em tirosina, uma substância que estimula a liberação de endorfina e também a produção de serotonina e dopamina — conhecidos como os hormônios da felicidade. Muitas vezes, sem prestar atenção ao paladar, as pessoas comem esses alimentos rapidamente, quase como se fosse uma necessidade do cérebro por esses hormônios — que também podem ser liberados através de exercícios físicos, massoterapia e outras práticas.
Por isso, é fundamental prestar atenção ao ato de comer, para que essa experiência não prejudique o equilíbrio psicológico e físico, mas sim seja vivida como muito mais do que uma necessidade básica: como uma verdadeira experiência.
Audição (ouvidos):
Os ouvidos são os órgãos responsáveis pela audição, pois detectam sons, ruídos e barulhos do ambiente e enviam essas informações para o cérebro, que as interpreta.
Na sociedade performática, as pessoas escutam, mas não ouvem de verdade.
Observe duas ou mais pessoas conversando e perceberá que dificilmente há pausas entre as falas. Isso ocorre porque muitas vezes se escuta apenas para responder, não para compreender.
Hoje, a sociedade está mais preocupada em demonstrar conhecimento e expressar opiniões do que em ouvir e aprender com o outro. Para muitas pessoas, o silêncio ainda é algo constrangedor.
Precisamos aprender a ouvir melhor, entender o que o outro realmente quer comunicar e também prestar atenção aos sons do ambiente: a música, os toques, os tons de voz, o canto dos pássaros, o som da comida borbulhando na panela, os volumes variados, as risadas das crianças, o vento — e até mesmo o silêncio.
Você sabia? O intenso prazer que sentimos ao ouvir música provoca a liberação de dopamina no cérebro, um neurotransmissor que atua como motivador e gera a sensação de prazer no organismo. Ouvir atentamente uma boa música pode transformar o seu dia.
O toque (tato):
O tato é a sensação do toque, relacionada ao contato com a pele por meio dos neurônios sensoriais que enviam mensagens para o cérebro. Embora muitas vezes associemos o tato às mãos, esse sentido envolve qualquer parte do corpo que sinta a pele — os pés, a barriga, as pernas, entre outros.
A sociedade performática está esquecendo o toque.
Mesmo passando o dia inteiro interagindo com telas sensíveis ao toque (touch screen), as pessoas apenas apreciam imagens da areia da praia, do mar, da terra, das plantas ou da neve pelo celular. Na vida real, acabam tocando muito poucas coisas durante o dia: o celular, o teclado do computador, os alimentos, o transporte e mais nada.
Não é preciso sair viajando para sentir o tato — é possível exercitar esse sentido com mais frequência no dia a dia: sentir com as mãos os alimentos que consome, perceber a delicadeza da pétala de uma flor, fazer carinho nos cachorros e gatos, sentir a água no banho, a pele aquecida pelo sol, o abraço e o beijo da família e da pessoa amada.
Você sabia? Num estudo com mulheres conduzido pelos neurocientistas James Coan, Richard Davidson e Hillary Schaefer, da Universidade da Virgínia, participantes foram colocadas dentro de um aparelho de ressonância magnética funcional. Avisadas de que ouviriam uma explosão seguida de “ruído branco” (barulho produzido pela combinação simultânea de sons de todas as frequências), elas apresentaram intensa atividade nas áreas do cérebro relacionadas a ameaça e estresse. No entanto, nada disso aconteceu com aquelas cuja mão era segurada por seu parceiro. O toque parece ter desativado a reação de medo nessas voluntárias.
E você, como anda sentindo seu corpo e se conectando com seus órgãos de sentido? Que tal exercitar essa conexão um pouco mais?
Um beijo,
Psicóloga Daniele Castelani