Você tem dado muita importância para o que não merece sua atenção?

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Você tem dado muita importância para o que não merece sua atenção?

 

Olá,

Eu sou a Daniele Castelani, psicóloga e arteterapeuta, e essa é a versão em texto do segundo episódio do podcast IndiviDoando-se: um podcast que traz reflexões sobre a vida, sentimentos, emoções e humanidades.

Você pode ouvi-lo no link oficial do meu canal no YouTube no link abaixo:

Link Youtube

(também estou no Spotify - pesquisem ‘IndiviDoando-se’)

 

Não,

neste episódio eu não darei nenhuma notícia importante.

O título , importante, é exatamente o assunto de hoje.

Hoje, eu vou falar sobre a importância — sobre tudo aquilo que nos importa ou que nós importamos.

  • Você já parou para pensar no que é importante para você?
  • Consegue discernir o que é mais importante na sua rotina?
  • Quais são suas importâncias? Suas prioridades? Aquilo que é fundamental na sua vida? No seu dia a dia?
  • Você é daquelas pessoas que acha que tudo é importante e que precisa dar ‘check’ em todas as coisas até a hora de dormir?

 

A sobrecarga mental é uma queixa muito comum na clínica. Ela vem acompanhada de uma sensação de estresse, de não dar conta, de não conseguir fazer tudo o que “deveria”... e, quando vivida por um tempo considerável, é uma grande disparadora de sintomas emocionais como estresse, pânico, ansiedade e em relação ao trabalho, também o burnout.

Se você sente sobrecarga mental e quer iniciar uma jornada de redução de sintomas, uma das partes fundamentais do autoconhecimento é saber o que realmente tem importância para nós.

E, para começar essa reflexão, eu preciso mostrar a importância da etimologia da palavra importar, pois é daí que começa tudo aquilo que quero conversar com vocês hoje.

A palavra importar vem do latim importare, que significa "trazer para dentro".

Sim, importare é trazer pra dentro.

E aí? Trazer pra dentro — e aí?

Parece bobo, né? Mas vamos lá, porque saber o significado dessa palavra pode mudar sua maneira de ver algumas coisas daqui pra frente.

Sendo assim, tudo aquilo que nos é importante é aquilo que trazemos para dentro de nós (conscientemente ou, às vezes, não).

Respire um pouquinho agora e comece a pensar em tudo aquilo que você tem importado (dado importância — colocado para dentro) nos últimos tempos.

São mais coisas suas ou dos outros? São coisas que te fazem crescer e se desenvolver e/ou desenvolver pessoas queridas na sua vida? Ou você também coloca pra dentro da sua mente e da sua rotina coisas, demandas e trabalhos de quaisquer pessoas (inclusive das que você nem gosta)?

(E aqui, abro um parêntese pra dizer que não estou focando no trabalho. Sei como o mundo funciona e os acordos estabelecidos nesses tipos de contrato — às vezes, sim, é preciso colocar pra dentro demandas que o seu chefe pede, por exemplo, porque é um acordo de trabalho estabelecido por todas as partes.)

Porém, existem também os momentos em que uma pessoa não recusa nada. Tudo que é problema, B.O., fofoca... ela tá lá, no meio, importando tudo, trazendo tudo pra dentro, levando tudo pro travesseiro à noite.

Isso pode acontecer por N motivos: necessidade de agradar, dificuldade de dizer não, necessidade de parecer importante e resolver tudo, medo de ter momentos de respiro e entrar num universo mais profundo de si mesmo... e por isso se sobrecarrega de atividades e outras coisitas mais.

No consultório, quando as pessoas dão muita importância a coisas que lhes fazem mal, às vezes eu dou o exemplo dos setores de importação e de exportação de uma indústria — que, dentro dessa ideia, moram dentro de nós.

Numa brincadeira, costumo dizer que temos duas grandes áreas na nossa empresa interior: uma área de importação, onde recebemos (e às vezes acumulamos) coisas externas (pensamentos, opiniões, elogios, críticas etc.), e uma área de exportação (na qual exportamos ideias, expressamos o que pensamos e sentimos, damos elogios, fazemos críticas e por aí vai).

Algumas indústrias — barra pessoinhas — têm uma grande diferença nesses setores: o setor de importação está lotadérrimo, sem espaço para mais nenhuma caixa de recebimento, enquanto o setor de exportação está às moscas — sem exportar nada, nenhuma ideia, projeto, comunicação... ou seja, numa estagnação.

Quando a indústria — barra pessoinha — está com essa grande diferença entre os setores, é fácil perceber que ela está dando muita importância a coisas que não deveriam ser levadas pra dentro. Normalmente, essas pessoas estão em momentos mais sensibilizados da vida, se importando com tudo — inclusive com coisas pequenas que, em outros momentos, passariam despercebidas. Às vezes, estão num quadro depressivo, ansioso ou depressivo-ansioso; com autoestima baixa, pouca autoconfiança, medo, luto ou outros sintomas e transtornos emocionais.

Se a gente não para pra olhar para esses setores da nossa indústria — barra cabecinha — podemos nos sentir sobrecarregados e cansados.

Você sabia que, por conta de tanta “caixa nesse setor”, ou seja, de tantas preocupações, ansiedades, medos e excesso de pensamentos, a pessoa pode começar a se perder no dia a dia?

Por conta de um acúmulo de pensamentos (inclusive os intrusivos, muitas vezes sintomáticos — não só do TOC, o transtorno obsessivo-compulsivo, mas também de outras patologias), ela pode esquecer coisas importantes, como: compromissos, perder objetos, tropeçar, se distrair com facilidade, se machucar... Porque são muitas coisas que foram importadas ou consideradas importantes para aquela pessoa — e aí ela tem pouco espaço de respiro. E, obviamente, como qualquer humano, ela não vai dar conta de tudo. Estranho seria alguém que importa tanta coisa conseguir dar conta de tudo sem que haja esquecimentos, tropeços, falhas...

— "Ah, Dani, mas tem gente que dá conta de tudo, que se mantém firme e forte, não tem?"

Bom... ela pode até tentar. E por um tempo é possível. Mas, se não aceitar que precisa de espaços (mesmo que forçadamente), ela vai adoecer, muitas vezes com o surgimento das crises de ansiedade, de pânico etc.

Pense num ambiente lotado de caixas, sem espaço para mais nenhuma, mas o setor de importação continua colocando coisas lá dentro... uma hora tudo vai rachar, explodir, começar a vazar pelas portas e janelas. É assim que os sintomas aparecem: vazando nos esquecimentos, tropeços, na sensação de ansiedade, nas crises de choro...

Eu particularmente gosto muito da ideia do desapego. Acredito também que algumas pessoas têm mais facilidade com o desapego e outras não, mas sei que todas podem desenvolver essa capacidade — de desapego e de desidentificação com algumas coisas.

Porém, pra isso, é preciso trabalhar o autoconhecimento através das áreas de importação e exportação psíquica.

Como?

Importando menos coisase somente aquilo que é prioridade para você, com o qual você se identifica. Ou seja: se autoconhecendo, refletindo sobre si mesmo, escolhendo melhor as relações, melhorando o seu consumo (não só de coisas materiais, mas também de conversas, conteúdos, redes sociais, alimentos mais saudáveis...).

Quando consumimos de forma mais consciente, não importamos — ou seja, não trazemos pra dentro — coisas que sejam maléficas para nossa mente, alma, corpo e casa.

É óbvio que não conseguimos filtrar tudo, nossa mente capta milhares de informações todo o tempo, mas ao escolher o que assistir, ler, ouvir, podemos desde já filtrar o que vai entrar no nosso setor de importação.

Além disso, Pensando nisso tudo, precisamos também colocar o setor de exportação pra funcionar!

Não vivemos só pra importar. Vivemos também pra exportar.

Exportar pode ser colocar algumas dessas caixas pra jogo: fazer circular, doar palavras, tempo, ouvidos — mas também coisas, objetos, comida, agasalho...

Exportar é comunicar, falar, soltar o que te aflige. Se você está sobrecarregado, sensível, cansado, afetado pela opinião dos outros... exporte! Coloque pra fora, escreva, compartilhe, faça terapia.

Falar cura. Expressar alivia.

Exportar abre espaço pra criatividade, amorosidade, prazer, descanso...

Exportar pode mudar a vida de alguém. Compartilhe coisas.

Então, com essa “brincadeira” dos setores de importação e exportação psíquica, podemos pensar que, às vezes, essa sensação de incômodo, estresse ou ansiedade que você sente, pode estar relacionada ao seu setor interno de importação. Talvez você esteja importando demais e exportando de menos. E aí, não tem mente que dê conta.

Que tal refletir?

Pense nas coisas que você consome.

  • Pense para quê você dá tanta importância a coisas que te desagradam?
  • Para quê coloca pra dentro coisas que te causam desconforto?
  • Para quê aceita pesos que não consegue carregar e que se acumulam dentro de você, ocupando espaços onde poderiam estar a saúde, o prazer, a alegria?

Reflita sobre o que você coloca pra dentro...

Na sua casa literal, por exemplo: você deixa qualquer pessoa entrar? Deixa entrarem com os pés sujos de lama? Aceita que joguem um saco de lixo pela janela da sua sala? Eu duvido.

Se psiquicamente você deixou, por algum motivo, essa sujeira entrar, se permita fazer uma faxina.

Junto com essa faxina, comece a refletir também sobre o que você exporta. Que tipo de contribuição você faz no mundo? Você exporta lixo também? Ou palavras edificantes, amor, escuta, abraço, carinho?

Tem algo que você faz bem e poderia ensinar a alguém?

Como anda sua criatividade e suas criações?

Para Jung, criar é uma necessidade da alma. Nós precisamos criar — seja arte, matéria ou soluções criativas para os desafios da vida.

Você gostaria de exportar suas criações?

Saindo do campo simbólico, tem algo físico que você não usa mais e poderia fazer outra pessoa feliz?

Quais caixas físicas ou psíquicas você pode compartilhar ou doar?

Finalizo com o desejo que você dê importância ao que te faz bem, te desenvolve e te dá prazer.

Desejo também que você exporte o que não te serve mais e que possa ser bom para uma outra pessoa.

Desejo que sua mente tenha espaço para descanso e respiro.

E, se precisar, não hesite em buscar ajuda profissional.

Para conhecer mais do meu trabalho:

🌐 www.barbolani.com.br

📱 Instagram: @danibarbolani.psi

Espero que esse episódio tenha te ajudado em algo.

Um beijo,

e até o próximo episódio! 🌿

 

Psicóloga e Arteterapeuta Daniele Castelani