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Campanha Setembro Amarelo: Mês de Prevenção ao suicídio

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Campanha Setembro Amarelo: Mês de Prevenção ao suicídio
O que é?

A campanha Setembro Amarelo é uma campanha brasileira que começou em 2015, com iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O mês de Setembro foi escolhido por conta do dia 10 de Setembro, que desde 2003 é considerado o dia mundial de prevenção ao suicídio.
A cor amarela é referência a história de Mike Emme (no qual contarei abaixo) e também serve de alerta para ficarmos atentos as pessoas ao nosso redor e identificarmos comportamentos diferentes do normal e que podem indicar uma ideação suicida.


Sinal amarelo: Atenção! Devemos ficar atentos a esse assunto.

É comum vermos a figura do girassol dentro dessa campanha também. O girassol é uma flor que sempre está voltada para a luz. Não importa onde ele esteja, ele sempre se voltará para o sol e a luz, simbolizando a vida e a busca por dias melhores.
Quando não se tem luz, os girassóis se viram um para o outro, como se dessem apoio e suporte entre si – mais um belíssimo símbolo e ensinamento que a natureza nos dá.



É importante lembrar que aderir a campanha é mais do que apoiar a causa ou mudar as fotos de perfis nas redes sociais. É imprescindível entender como oferecer ajuda; para qual lugar direcionar alguém que precisa de apoio e suporte e entender os fatores de risco que fazem com que alguém pense em tirar a própria vida.

A história de Mike Emme

Mike Emme tinha 17 anos quando se suicidou em 1994.
Mike tinha habilidades mecânicas e na época, reformou um Mustang 68 e o pintou de amarelo. O Mustang amarelo se tornou a paixão de Mike e por isso todos o chamavam de “Mustang Mike”.
Infelizmente, as pessoas próximas de Mike não perceberam ou deram atenção aos sinais do garoto e ele, por sua vez, colocou fim em sua própria vida.
No dia do seu funeral, os pais de Mike – Dale Emme e Darlene Emme deixaram uma cesta com 500 cartões e fitas amarelas com a seguinte mensagem: Se você precisar, peça ajuda!
As fitas amarelas ou “Yellow Ribbon” em inglês,  se espalharam pelos Estados Unidos e em poucas semanas inúmeros adolescentes pediram ajuda: por telefone e cartas.
Assim, em 2003 a OMS (Organização Mundial da Saúde), instituiu o dia 10 de Setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio e a cor amarela é referência ao “Mustang Mike”.


ESSA FITA É UMA LINHA DA VIDA! Ela carrega a mensagem que existem pessoas que se importam e vão ajudar! Se você está precisando de ajuda e não sabe como pedir, entregue esse cartão a um conselheiro, professor, padre/pastor, médico, parente ou amigo e diga: “EU PRECISO USAR MINHA FITA AMARELA”. O programa Yellow Ribbon é em memória amorosa de Michael Emme.

Para quem é a campanha?

A campanha setembro amarelo é para todos, não só para quem tem/teve ideação suicida e/ou tentativa de suicídio.
Algumas pessoas acreditam que a campanha é destinada à essas pessoas e isso não é verdade. A campanha deve atingir principalmente as pessoas que convivem com quem sofre e pensa em tirar a própria vida.
Baseada na proposta de falar sobre o assunto e trazer conscientização sobre o suicídio, fatores de risco e em maneiras de se ajudar quem precisa, a campanha deve atingir a todas as pessoas da sociedade. Até mesmo porque, muitas vezes, a pessoa com pensamentos suicidas e tomada por alguma doença como a depressão por exemplo, tem como sintoma se isolar de tudo e de todos, e estando em isolamento, é muito difícil que vídeos e textos como esse cheguem para quem precise. Por isso, é imprescindível que todas as pessoas saibam como ajudar quem precisa, porque na maioria das vezes aqueles que precisam não têm acesso as informações.


Por que as pessoas se suicidam?

Já sabemos que as pessoas que tentam o suicídio não querem tirar a própria vida e sim a dor.
James Hillman em seu livro “Suicídio e Alma” afirma que todas as pessoas deixam morrer coisas e ciclos na vida e que muitas vezes nós desejamos isso, a grande questão é sair do caráter simbólico e ir para o literal.
Muitas vezes nós queremos acabar uma relação, sair de um trabalho ou terminar com qualquer sofrimento que estejamos passando naquele momento, mas isso não quer dizer que tenhamos que acabar com a nossa própria vida e sim que devemos  deixar morrer aquele ciclo.

“Poder-se ia falar tanto sobre o literalismo do suicídio! – porque o perigo reside não na fantasia da morte, mas em sua literalidade”.
HILLMAN, James. Suicídio e Alma. p.18. Ed. Vozes


Sendo assim, é importantíssimo que a pessoa com pensamentos suicidas busque ajuda profissional. Jamais descredibilizaremos ou julgaremos a sua dor, mas mostraremos que não é preciso por fim a vida de maneira literal e sim de aumentar a autoconfiança para se ter ferramentas para lidar com aquele sofrimento e deixa-lo ir (morrer de maneira simbólica), para começar outro ciclo: num novo estilo de vida mais saudável, consciente e feliz.

Quando temos uma dor física nós sabemos onde dói e podemos buscar ajuda e tratar o local da dor. Mas quando a dor é psicológica e não se sabe onde dói ou em qual lugar do corpo se passar algum remédio, muitas pessoas não aguentam e pensam que tirar a própria vida é uma forma de reduzir aquele sofrimento. E isso é MITO!
A tentativa de reduzir o sofrimento através de práticas de automutilação ou autodestruição não são eficientes e podem ser IRREVERSÍVEIS.
Na tentativa de “tirar” a dor psíquica e levar para o corpo, uma pessoa pode tirar a própria vida.
Portanto devemos ficar atentos, jamais julgar o sofrimento alheio ou chama-lo de “drama” e acolher a todos que sofrem. Ao menor sinal de pensamento suicida, encaminhe aquela pessoa para um profissional que possa dar esse suporte.

Fatores de risco:

A campanha setembro amarelo também serve para chamar a atenção dos órgãos públicos e mostrar a precarização dos cuidados com a saúde mental. Questões econômicas, educacionais, culturais, ambientais e sociais também interferem (e muito!) a saúde mental do brasileiro. Portanto a prevenção do suicídio não deve entrar apenas no caráter individual mas também no coletivo. Precisamos e devemos lutar por melhores políticas públicas de saúde mental e aderir a campanha para ajudar os que precisam.

Os fatores de riscos são inúmeros e é sempre importante avaliar a história pessoal da pessoa que sofre. Contudo, dentre os mais comuns estão:
  • Transtornos mentais;
  • Necessidades financeiras;
  • Abuso de substâncias;
  • Doenças terminais ou incapacitantes;
  • Ter entre 15 e 35 anos ou mais de 75 anos;
  • Histórico de suicídio na família,
  • Luto;
  • Tentativas anteriores;
  • Falta de vínculos familiares e sociais;
  • Excesso de ansiedade;
  • Desemprego;
  • Divórcios e términos de relacionamento;
  • Estresse continuado;
  • Outros.

Como ajudar alguém com ideação suicida?

É preciso estar atento aos sinais.
Algumas pessoas manifestam sinais claros de quem pensam em suicídio, com recorrentes frases como:
“Eu preferia estar morto”
“A vida para mim não tem sentido algum”
“Se eu morresse hoje não seria um problema”
“As vezes tenho vontade de não acordar nunca mais!”

Pessoas mais expressivas costumam compartilhar isso com as pessoas próximas, em redes sociais ou grupos de mensagens. Muitas vezes têm comportamentos de fuga como abuso de substâncias, saídas em excessos, trabalho em excesso e etc.
Outras pessoas não são expressivas e preferem se isolar. Muitas vezes por constrangimento, falta de pertencimento ao meio, sensação de inferioridade e outros. É preciso estar atento a esse isolamento e distanciamento social, perguntar se a pessoa está bem ou precisa de algo não é se intrometer e sim oferecer ajuda. O máximo que pode acontecer é uma pessoa dizer que está tudo bem e que não precisa de ajuda. Ainda assim, caso você continue percebendo comportamentos estranhos naquela pessoa e uma tristeza duradoura, continue em alerta e sempre se mostre disponível para ajudar.

Outra coisa importante é trazer conscientização sobre o assunto, explicar para a pessoa que sofre que isso é passageiro porque é um SINTOMA, e sintomas quando falados e tratados podem ser curados.
Dentro de um quadro de quaisquer transtornos psicológicos, é muito difícil ter uma percepção de melhora e um otimismo diante da vida, a pessoa tende a se sentir cada vez pior e não encontrar saídas e alternativas. Por isso, é imprescindível que tenha alguém para lhe encaminhar para um profissional que possa ajudar e tratar essa pessoa, porque sozinha ela se vê impotente.

Quando uma pessoa já avisou que irá cometer o suicídio e/ou deu até um dia limite para a sua vida, NÃO SAIA DE PERTO. Esteja sempre presente e encaminhe urgentemente para um profissional.
Em caso de tentativa, chame uma ambulância imediatamente.
Tenha em mãos sempre o número do Centro de Valorização da Vida (CVV) que é o 188.
Também disponibilize nas suas redes o site do CVV: cvv.org.br
Muitas celebridades e digitais influencers se mostram aptos para acolher e ajudar essa pessoas, contudo é importante que a pessoa em sofrimento busque ajuda com profissionais estudados e especialistas no assunto. Muitas vezes o influencer não tem repertório para tal assunto e não será eficiente. Além do mais, tal figura pública pode ser um ideal (muitas vezes inalcançável) da pessoa com ideação suicida, o que pode piorar o quadro quando ele começa a se comparar com essas pessoas.
Para finalizar, a quantidade de pedidos de ajuda para influencers é gigantesca, e nem sempre essa pessoa dará conta de retornar a todos. A falta de um retorno pode abalar ainda mais a autoestima da pessoa em sofrimento e piorar o quadro.
Fiquemos atentos quanto a isso.

A conscientização e alerta deve ser feita por todos os meses do ano!

Assim como várias outras campanhas (Janeiro Branco, Outubro Rosa, Novembro Azul, por exemplo), a campanha setembro amarelo é uma campanha de conscientização sobre o assunto, afim de ajudar a todos e dar repertório de como ajudar quem está em sofrimento; mas isso NÃO quer dizer que deve ser feita só durante o mês de setembro.
Nós profissionais da saúde, sabemos que essa demanda acontece durante todo o ano. Portanto, é importante seguir essas orientações e entender sobre esse tema durante todos os outros meses também.
Além do mais, é muito importante não banalizar a campanha. Não é porque a campanha de conscientização do câncer de mama acontece em outubro que não se trata da doença nos outros meses também, com o suicídio não é diferente.

Para finalizar, afirmo que falar sobre o suicídio não estimula o ato. Não falar sobre ele e fazer com que seja tabu é que evita que milhares de pessoas sejam ajudadas, porque tais informações não chegam para quem precisa e essas pessoas se sentem só, constrangidas pelo sentimento de não pertencimento e vazio existencial (pois não entendem que é um sintoma e de que é uma doença), e não veem uma saída.
Portanto, vamos falar sobre o assunto, vamos acolher quem sofre (sem jamais julgar) e vamos valorizar a vida.

Texto: Daniele Castelani  - Psicóloga – CRP: 06/131496