É fato que cada caso é um caso e que existem diversas situações que pesam numa separação (incluindo pessoas que por N contextos não conseguem ou podem se separar – ameaças e violências são exemplos disso); contudo, o que muitos pais não levam em conta, é que muitas vezes a não separação gera ainda mais sofrimento aos filhos do que manter um casamento falido, além de, refletir na maneira com que esses filhos se relacionarão no futuro.
Até mesmo os pequeninos conseguem perceber quando algo não está bem dentro de casa.
Uma criança pequena pode não entender das contas da casa, da necessidade do valor financeiro que um dos cônjuges traz e/ou da dependência emocional desses pais, mas com certeza ela percebe e sente o silêncio, a frieza, a falta de contato entre o casal e a irritabilidade de cada um.
Consciente ou inconscientemente, os filhos entendem que a relação dos pais não é boa e por vezes, podem até se sentirem culpados por isso. Neste contexto, é comum haver um aumento de exigência de si mesmos para agradar esses pais e trazer um pouco de alegria para cada um (exigência esta que gera muito sofrimento para o indivíduo).
Pensemos então, o quanto uma não separação dos pais pode afetar as futuras relações daqueles filhos.
Os filhos entendem o que é uma relação/experiência amorosa/conjugal, a partir do que eles presenciam nas relações mais próximas (normalmente dos pais ou cuidadores). Assim sendo, tal relação serve como norteador para as futuras relações afetuosas desse indivíduo.
Quando os filhos crescem com pais/cuidadores que não se dão bem, mas que apesar disso não se separam, eles podem:
- Ter muita dificuldade em se relacionar com pessoas de modo geral, porque não sabem dar e/ou receber afeto;
- Naturalizar as brigas e falta de respeito em relacionamentos amorosos ou de amizades (porque cresceu vendo isso em casa);
- Desenvolver um maior risco de sofrer de ansiedade e depressão, dificuldades para dormir e problemas de desenvolvimento;
- Se sentir sempre cobrado a dar amor a um dos cônjuges e consequentemente culpa pelo outro não estar lá (alguns pais/cuidadores inclusive reforçam isso quando demandam o afeto desse filho e em casos de alienação parental);
- Não entender as diferentes formas de amor e de afeto e associar o amor apenas ao valor financeiro, como: pagar contas, fazer compras do mês e ser o provedor de uma família – assim sendo, quando se torna adulto, não sabe expressar e demonstrar afeto e pode ter dificuldade em se relacionar amorosamente com outra pessoa, buscando algo ou alguém para prover e não para amar;
- Ser submisso e inseguro;
- Não conseguir estabelecer vínculos com pessoas ou lugares, visto que entende que vínculos não são estabelecidos porque nunca viu isso em casa;
- Não conseguir crescer ou se desenvolver porque não quer sair de casa (sente-se a ponte ou o fio que liga o casal – “o equilíbrio”);
- Outros.
Sendo assim, antes de procrastinar uma separação que por vezes se faz necessária justificando-se pelos filhos, é interessante pensar no quanto essa não separação pode prejudicar ainda mais o emocional desses jovens.
É preciso muito acolhimento para todas as partes envolvidas. Além disso, é imprescindível que se tenha honestidade entre todos da família, com uma comunicação honesta e assertiva, em busca de um melhor bem estar para todos, e quando necessário, buscar ajuda profissional.
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Dúvidas, fico à disposição.
Um beijo,
Psi. Daniele Castelani